Sindicato dos Vidreiros celebra 90 anos de história de luta em São Paulo

Aniversário da entidade foi celebrado na sede da CUT na capital paulista

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Texto: Vanessa Ramos - CUT São Paulo

Foto: Dino Santos/Sindicato dos Vidreiros

O bairro do Brás foi palco da celebração dos 90 anos de história do Sindicato dos Vidreiros no Estado de São Paulo nessa quarta-feira (18).

O evento de solenidade ocorreu no auditório da sede da Central Única dos Trabalhadores, à Rua Caetano Pinto, 575, no centro da capital paulista, a poucos metros da sede do sindicato.

O objetivo foi celebrar e homenagear a instituição que, além de se engajar na defesa da categoria, desempenhou papel decisivo em diferentes mobilizações populares, como as lutas contra a ditadura militar, pela democracia, contra os ataques ao governo de Dilma Rousseff e toda retirada de direitos desdobrada com Michel Temer e Jair Bolsonaro no país.

Participaram da solenidade lideranças sindicais, políticos, representantes da base da categoria e antigos dirigentes que relembraram fatos marcantes do sindicato nas últimas décadas.

Emocionado, o dirigente do Sindicato dos Vidreiros no Estado de São Paulo, José Fernando Silva, mais conhecido pelo apelido de ‘Cabeção’, lembrou da participação dos vidreiros na construção da Central.

“Não existe lugar melhor para celebrar os 90 anos do que na CUT, já que ajudamos fundar a central num momento intenso de luta pela redemocratização do Brasil”, afirmou o dirigente, ao citar também a participação dos vidreiros na fundação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e da Confederação Nacional do Ramo Químico da CUT (CNQ-CUT).

Da mesma forma, o químico e secretário de Finanças da CUT-SP, Renato Zulato, reforçou a participação dos vidreiros e vidreiras na fundação da Central.

“Dos 90 anos do sindicato, 40 deles sem dúvida foram dedicados à construção da CUT. Com as todas as dificuldades que tiveram, os vidreiros nunca deixaram de fazer a sua luta. Ninguém faz o presente sem olhar para o futuro e pensar no passado. Muita gente construiu a história do sindicato e agora é momento de olhar para frente e promover formações políticas para entender as transformações do mundo do trabalho e da indústria. Esse é o maior desafio da diretoria atual”, avaliou.

Vidro está em tudo

A vidreira Ivonete Pereira César trabalhou como montadora de para-brisas por 35 anos.

Como presidenta da Associação dos Aposentados Vidreiros e secretária Setorial do Vidro e da Cerâmica da CNQ-CUT, Ivonete fala da importância do setor na sociedade.

“O vidro está em tudo, no automóvel, na mesa, na toalete, na piscina, nos elevadores, nos grandes prédios. E também reciclamos como forma de salvar o país”, afirma.

A dirigente ressalta ainda conquistas alcançadas em acordos coletivos com empresas. “Além de toda luta por reajuste salarial, na área da saúde conseguimos garantir exames como mamografia, papanicolau e próstata pagos pela empresa, algo que não existia antes”, exemplifica.

Na solenidade, o vice-presidente da CUT-SP e deputado estadual, Luiz Claudio Marcolino, falou sobre o valor daqueles que vieram antes e garantiram avanços fundamentais.

“Não tínhamos carteira de trabalho assinada, nem jornada de trabalho de 44 horas semanais. Quem passou pelo sindicato lá atrás, lutou para reduzir a jornada que era de 16, 18 e até 20 horas de trabalho por dia”, lembrou.

As informações e os dados trazidos pela história, segundo Marcolino, apresentam contextos difíceis.

“Se pegarmos o período de 1964 até 1985, vamos perceber que não houve nenhum direito agregado ao sindicato nesse período, como não houve dos bancários, dos metalúrgicos. Porque durante a ditadura militar não tivemos direitos e sequer a possibilidade de discutir com o patrão. A maior parte dos sindicatos passaram por uma intervenção”, lamenta.   

História de resistência

Lindinalva Oliveira de Figueiredo, 67, trabalhou como vidreira por 12 anos e compôs a direção do sindicato e da CUT no final dos anos de 1980 e começo dos anos de 1990. Hoje atua como caminhoneira pelo Brasil, mas não esquece sua trajetória de luta sindical em defesa dos direitos e da democracia.

“Participamos de greves para reivindicar melhores condições de trabalho, especialmente para as mulheres que recebiam menores salários e passavam por todo tipo de discriminação. Lembro bem de um chefe que cometia assédio sexual contra funcionárias da linha de produção, colocamos o nome dele em um jornal e fomos distribuir na porta da fábrica. Ele foi punido depois das denúncias que fizemos”, relata.

À frente do departamento de Mulheres do sindicato, lado a lado com a sindicalista Ivonete Pereira César, Lindinalva discutia todo tipo de violência contra trabalhadoras vidreiras. Como uma tragédia da vida, inclusive, foi vítima de estupro por dois homens quando estava chegando perto de sua casa, após uma atividade sindical na Câmara Municipal de São Paulo no início de 1990.

À época, foi levada para a Casa Eliane de Grammont na capital paulista para ser acompanhada. Poucos dias depois, Lindinalva participou como vidreira de um encontro latino-americano de mulheres onde falou das dificuldades das trabalhadoras de sua categoria e da violência sexual sofrida na própria pele.

“Não conseguia dormir, o cheiro do ataque que sofri ficou em mim, as imagens, as vozes. Ao mesmo instante que me sentia fraca e debilitada, senti uma força junto com toda a rede de apoio ao meu redor, especialmente do meu marido, e fui nesse encontro entre países para denunciar a minha própria dor, falar sobre como a violência atinge as mulheres a cada segundo e contar quais os tipos de situação vivem as vidreiras. Moro na zona leste de São Paulo desde da época do ataque. Quem mora na periferia sabe bem como a violência se dá”, completa.

Nesses 90 anos de história do sindicato, Lindinalva comemora as conquistas que ajudou a construir.

“Serei sempre parte dessa história de luta em defesa dos direitos das mulheres trabalhadoras. Foram muitas as conquistas que tivemos no sindicato, mas os desafios seguem ainda presentes. Onde quer que esteja, seguirei lutando pelo nosso Brasil, por um país com democracia e sem ódio, por um mundo com maior justiça social e sem violência e machismo”, finaliza.